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Métodos de construção mais econômicos e sustentáveis: conheça mais.
15/05/2020
1. Hoje existem métodos mais econômicos e sustentáveis para a construção, por que, na sua opinião, no Brasil o método convencional ainda é tão popular?
Na realidade no campo da arquitetura sempre existiram vários métodos construtivos. Com o passar do tempo estes métodos se aprimoram e outros métodos surgem incorporando novas tecnologias que geram avanços significativos no modo de construir.
O método do concreto armado surgiu na Europa no século XIX a partir de técnicas conhecidas desde a antiguidade, como a alvenaria. Historicamente o Brasil possui esta cultura construtiva enraizada, o que fortaleceu o mercado no setor industrial e também no setor de mão de obra, aonde as técnicas são passadas de geração em geração e não demandam de estudo aprofundados para executá-la, levando trabalho a pessoas que não encontram outras oportunidades. Esta cultura se estabeleceu também no lado do cliente, que muitas vezes vê esta como a única forma de se construir.
É fato que a construção civil no Brasil avança de forma mais lenta do que em outros países, uma vez que a incorporação de novas tecnologias provoca mudança cultural, tecnológica e abre uma disputa de mercado. Mas, o avanço lento não implica a nossa estagnação. Felizmente nosso mercado tem se diversificado e, aos poucos, outras tecnologias estão sendo incorporadas. Fatores como a crise financeira e o aumento do conhecimento criam novas lacunas no setor, aqui papel do arquiteto é fundamental para que esta lacuna seja preenchida com qualidade.
Em minha opinião, dentre tantos fatores, a abundancia de mão de obra qualificada nesta área ainda é um fator determinante dos passos lentos em que avançamos. Como arquiteta vejo muita resistência no canteiro de obras, mas nos iremos vencer esta barreira com persistência e com a produção de uma sociedade com mais educação e oportunidades.
2. No caso do steel frame, a construção com este sistema tem tanta qualidade quanto um sistema convencional? Quais os destaques?O steel frame consiste em uma construção a seco e há anos é muito difundido em países desenvolvidos. Este método pode possuir mais ou menos qualidade que o método comum. Isto efetivamente irá depender, em primeiro lugar, de que tipo de qualidade que estamos falando e, em segundo lugar, de que forma que ele será executado. Um edifício, por exemplo, possui qualidades no que se referem ao conforto térmico e acústico, à modulação e flexibilidade do projeto, à sua durabilidade, à sua estrutura, etc. De qualquer modo em ambos os casos a qualidade do sistema vai depender das escolhas bem feiras realizadas na etapa do projeto que se adequem as condições especificas do local e da perfeita execução do que for especificado. Cada técnica possui as suas limitações e competências.
3. Esse método, realmente representa um ganho quando se fala em cuidado com o meio ambiente?
Sabemos que atualmente o setor da construção civil é uma das atividades humanas de maior impacto ambiental, isso se dá pelo consumo de recursos naturais, pelas emissões de gases do efeito estufa, pelo consumo de energia elétrica, pela alta produção de resíduos e pelo uso de água. Os esforços em direção à sustentabilidade se dão no sentido de diminuir os impactos em uma ou mais destas vertentes, uma vez que a construção sempre irá repercutir no meio ambiente e nunca será 100% sustentável (pelo menos por enquanto, com a tecnologia que temos disponível).
O método steel frame possui características positivas neste aspecto, como o menor impacto no canteiro de obras, a rapidez da execução, menor produção de resíduos e de desperdício de material, facilidade de desmontagem e a reciclagem do aço após o seu uso. Outros ganhos em relação à sustentabilidade, assim como em outros métodos, irão depender de decisões de projeto desde o seu lançamento até as especificações dos materiais. Por exemplo, se eu especificar uma obra em steel frame com painéis de fechamento vindos de São Paulo provavelmente será menos sustentável neste quesito do que uma obra com fechamento em tijolos produzidos na região. São muitos fatores que devem ser colocados na balança.
4. No caso das construções com contêineres, elas realmente valem a pena? Quais os principais benefícios?
As construções em container são uma alternativa para a promoção de sustentabilidade na a construção civil. Seu maior benefício é que se trata do reaproveitamento de um material que está inutilizado para o fim em que foi destinado. Atualmente existe um excedente de containers muito grande no Brasil e dar novos destinos ao material é uma atitude louvável considerando que o material possui uma vida útil de cerca de 100 anos.
Existem dois tipos de containers que podem ser utilizados neste caso, o comum, feito de aço, e o “refeer” utilizado para transporte de congelados, que possui isolamento térmico, ambos podem ser remodelados para se adaptar as necessidades do projeto. O seu reaproveitamento em edificações promoverá uma obra limpa, rápida e econômica. Se a aplicação da técnica vale a pena ou não vai depender das especificidades de cada situação e da forma em que o container será reutilizado.
5. E neste caso ainda, é necessário que as pessoas tenham algum cuidado específico ao optar por uma obra com este material?
Para reutilizar o container na construção civil uma série de cuidados devem ser tomados. O seu material de fabricação, assim como a pintura e os solventes que são liberados no ar podem ser tóxicos e prejudiciais à nossa saúde, também é importante observar que tipo de material era transportado ali a fim de evitar vestígios contaminantes. Outro fator importante é que o aço é altamente condutor de energia e requer cuidados com a condução de eletricidade e com o conforto termoacústico, devendo receber tratamento específico. Além disso, o seu manejo depende de mão de obra especializada e deve ser feito com muita precisão. O corte deve ser feito com ferramentas especificas para que seja de qualidade, pois depois da chapa cortada é difícil concertar algum erro e se uma solda for mail feita pode gerar corrosões e infiltrações, etc. Assim como qualquer técnica construtiva o seu sucesso dependerá de um projeto bem feito e de uma execução de muita qualidade.
6. Passo Fundo viveu nos últimos anos um boom no setor imobiliário. Esse crescimento foi acompanhado pela adoção de técnicas modernas no que se refere à sustentabilidade ambiental?
Infelizmente não. Por vários motivos as ultimas construções ainda estão muito aquém no sentido da sustentabilidade (que não pode ser rotulada como uma técnica e sim como um conjunto de boas escolhas), vejo que ocorreu no mercado mais marketing verde do que ações concretas. Mas, em contrapartida uma nova centelhade esperança está surgindo, hoje estamos começando a ver no mercado atitudes que visam iniciativas sustentáveis e tenho certeza que há uma tendência de crescimento, este é o caminho e não teremos como escapar. Estamos começando a viver uma realidade que já é comum em países desenvolvidos.
Um forte propulsor da sustentabilidade é a crise, pois com a baixa de mercado as empresas precisam buscar um diferencial competitivo. Outro fator é a dissipação de conhecimento que não deixa mais o consumidor se iludir, a atualização e a exigência do cliente será fundamental neste processo. E ainda, vejo que os grandes responsáveis pela transformação serão os jovens desta e das novas gerações, tanto no papel de consumidor quanto no papel de profissional. O exemplo disso são as experiências que tenho no meio acadêmico na Universidade de Passo Fundo, o fomento da sustentabilidade está intrínseco nos projetos dos alunos devido à sua própria conscientização e ao nosso incentivo incessante, em menor ou em maior grau não se separa mais uma coisa da outra.
7. O que falta para termos um sistema de construção que agrida menos o meio ambiente, promova a eficiência energética e traga outros benefícios para a população como um todo?
Para responder esta pergunta retorno à minha primeira frase. Existem muitos métodos construtivos e certamente surgirão mais, porém não haverá um único método ideal ou uma solução mais eficiente que a outra, o próprio método convencional está constantemente evoluindo neste sentido. Este rótulo não irá existir. A promoção de atitudes mais sustentáveis devem atingir dimensões que integram os vieses econômico, social, ambiental e cultural.
Para fazer escolhas bem feitas deve-se ter um olhar holístico, um sistema construtivo engloba mais variáveis do que a obra em si e tudo deve ser colocado na balança. A construção civil engloba o envolvimento de pessoas em todos os processos, abrangendo, por exemplo, a difusão de conhecimento e de pesquisa, o processo de extração, o manejo e o tratamento industrial de diversos materiais, o transporte, a gestão em canteiro, a ocupação e manutenção do edifício até o fim do seu ciclo de vida que envolverá o descarte ou reciclagem. Além disso, devemos considerar a qualidade de vida do ser humano que ali irá habitar, o edifício deve proporcionar felicidade e ser usado de forma sustentável e este é o fator que mais pesa na balança.
Diversos sistemas podem ser usados com o intuito de promover a sustentabilidade e a eficiência energética. Fundamentalmente o que irá determinar o nível de eficiência será o conjunto de escolhas bem feitas no seu planejamento. Estas envolvem o respeito pelas necessidades do cliente, pelas decisões conceituais do projeto e pela cultura local, a correta inserção do edifício no terreno e as estratégias voltadas para o clima local, que chamamos de Arquitetura Bioclimática, e que naturalmente proporcionarão conforto térmico, acústico e lumínico e eficiência energética.
Evidentemente que as escolhas que diminuam a quantidade de resíduos e desperdício em obra, que encurtem o tempo de execução, que envolvam a modulação, a industrialização, a reciclagem, que reduzam o transporte, que envolvam uma extração consciente, que não liberem elementos tóxicos no ar, etc., irão resultar em uma obra de menos impacto ambiental. O mais importante em se ter em mente é que sustentabilidade é resultado de projeto e planejamento.
Maiara Roberta Santos Morsch
Arquiteta e Urbanista, especialista em Sustentabilidade e Eficiência Energética em Edificações, Mestre em Engenharia e Meio Ambiente, Doutoranda em Arquitetura. Já trabalhou com construções eficientes em Nova York nos EUA, trabalhou em obra com selo verde (LEED Gold) em Porto Alegre. Hoje além de atuar na área e prestar consultorias é docente do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Passo Fundo ministrando disciplinas de Projeto Arquitetônico e de Conforto Ambiental.